Marlise Buchweitz Klug, Rosimeire Simões de Lima e Tatiana Lebedeff
«A leitura em sala de aula como mediadora de construção de igualdade de gênero»
INTERthesis. Revista Internacional Interdisciplinar, vol. 13, n.º 1,
Janeiro-Abril 2016
INTERthesis. Revista Internacional Interdisciplinar | Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC | Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFH | Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas - PPGICH | Florianópolis | Santa Catarina | BRASIL
Extracto del apartado «Considerações finais» de la publicación en PDF
«Os resultados com o trabalho de leitura e de escrita em sala de aula pode ser um novo olhar sobre as minorias, ou quem sabe a tentativa de fazer um novo caminho. Ao trabalhar com as memórias, com os textos, com o filme Vida Maria, com os poemas ‘A moça tecelã’ e ‘Para que ninguém a quisesse’, com a matéria prima que é a vida dos educandos, com os embates diários e a problematização do que é lido e visto diariamente no cotidiano da sociedade, tem-se a certeza de que mudanças favoráveis estão por vir.
»Talvez não seja possível mensurar os resultados através de gráficos, mas há várias questões que podem ser observadas com esse trabalho: a mudança de opinião, a fundamentação dos argumentos para respostas, a eliminação de respostas evasivas ou repletas de senso comum, a não repetição de clichês, a não conformação ou aceitação de crimes contra os direitos humanos, a indignação quando uma mulher é agredida ou morta sem contar quando são vítimas das violências simbólicas e psicológicas. Além disso, poder fazer os educandos refletirem que são donas/os de suas vidas e que não necessitam viver como suas avós ou mães ou pais e avôs, que não precisam repetir os modos de agir e de se portar em relação ao gênero oposto.
»Salutar se faz saberem que todos são capazes de quebrar ou romper com o ciclo de opressão ou dos que não desejam para a construção de suas vidas. Saber não se deixar corromper por chantagens e ameaças que tiram o significado e o sentido de inúmeras existências.
»Na ignorância ou falta de experiência acatam simplesmente os desejos do outro; quando percebem, já não possuem forças para sair de certos relacionamentos. O pior de tudo é que muitos pensam que não acontecerá em sua vida, atribuem a casos isolados publicados em notícias de jornal ou pela mídia.
»Os educandos, ao escreverem sobre suas vidas e relacionarem-nas com os textos lidos, podem compreender mais sobre aquilo que precisam vencer a cada dia: suas angústias, seus traumas, os sofrimentos e também as vitórias, esperanças, sorrisos e conquistas. Uma das alunas, comparando sua trajetória com a das muitas Marias do vídeo, destaca que:
»“[...] a minha mãe tinha muito medo do meu pai, ele era muito violento e nos batia muito. Por um lado foi bom ele ter saído de casa. A gente não podia brincar, sorrir, qualquer coisa era motivo para uma briga; muitas vezes a minha mãe apanhava junto com a gente” (ALUNA F, 15 anos).
»Outro detalhe recorrente nas escritas memoriais era o menosprezo dos pais (homens) em relação ao nascimento de filhas mulheres: “[...] nasci em casa, meu pai que fez meu parto e o de meus irmãos; quando eu nasci ele não me queria porque eu era menina, ele queria só filhos homens [...]” (ALUNA G, 16 anos). Esse fato foi mencionado em diferentes relatos, e observa-se, através dele, um sentimento de repúdio e indiferença sentido por essas meninas.
»Neste sentido, através do relato, surgem as histórias que compõem a identidade desses indivíduos que hoje estão enfrentando caminhos e buscando dias melhores através da educação. Observa-se que a escolha dos textos dos alunos aqui transcritos não teve qualquer caráter meritório. Assim como os exemplos trazidos, muitos outros textos poderiam ter sido usados neste trabalho. A cada ano, a cada nova turma com a qual é trabalhada a questão relativa a gênero, muitos depoimentos semelhantes são observados e trazidos para a sala de aula. Histórias de meninos e meninas que vivem opressão, dificuldades e carências de apoio para romper com situações comuns.
»Destaca-se que nossa vida se completa e se funde com a vida de tantas mulheres que nasceram nesse século e tiveram a oportunidade de ver o crescimento e as conquistas. Porém, vale lembrar que esse direito foi pensado, gestado, construído. Temos em nossas mãos uma preciosa oportunidade de trabalhar com a educação e numa profissão que oportuniza o contato diário com adolescentes e adultos, pessoas que estão em formação e que precisam pensar suas escolhas, pois elas terão reflexo no presente e no futuro de seus descendentes. É preciso uma escolha muito consciente e segura.
»Trabalhar com os inúmeros recursos que os professores possuem na atualidade é um privilégio e não se pode perder essa oportunidade de crescer e fazer o grupo crescer também. É um processo gradativo que nos leva a pensar repensar. Os escritos, vídeos, poemas, crônicas, debates entre outros nos permitem tecer um conjunto de argumentos e subsídios para a defesa de nossos posicionamentos e da vida em construção dentro de suas condições peculiares. Seria pretensão afirmar, mas ao construir a prática oportunizam-se reflexões e autoestima que permitam que os alunos tenham avançado e saibam se mobilizar ao ponto de saber dizer não.»
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