mayo 01, 2015

Wesley Augusto Nogueira, «O livro depois do livro»: Disseminação e acesso aos livros em meio digital



Wesley Augusto Nogueira
«O livro depois do livro»

Pôster
ENANCIB 2012
XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação
GT 3: Mediação, Circulação e Apropriação da Informação




Disseminação e acesso aos livros em meio digital

«Embora ainda permaneça incógnita a questão da preservação dos livros em meio digital, tem-se, em contrapartida, a certeza de que, em nenhum outro momento na história do livro, a potencialidade de disseminação e acesso bibliográfico foi tão grande. Como observa Colombo, “[...] os suportes da técnica eletrônica não são mais confiáveis que os outros mais clássicos (como por exemplo os de papel), sob o ângulo da durabilidade, mas é natural que o sejam dentro da perspectiva da acessibilidade e da rapidez na localização das informações”. (Fausto Colombo. Os arquivos imperfeitos. São Paulo: Perspectiva, 1991, p. 100).

»As possibilidades oferecidas pelos e-books, consideradas a partir de tecnologia já disponível, mas que ainda não se efetivaram como prática, têm condições de reestruturar o modo como se acessa a informação, bem como possibilitar sua distribuição mais igualitária na sociedade. Pequenas bibliotecas de cidades do interior, por exemplo, poderiam se beneficiar da utilização de e-readers ao disponibilizar, através de acesso remoto, um acervo bibliográfico de proporções improváveis sob a forma de volumes impressos. É inviável que uma cidade do interior possua, em sua biblioteca ou sala de leitura, um acervo de milhões de exemplares. Já virtualmente, não. Disponibilizando a quantidade adequada de aparelhos em relação ao número de usuários, qualquer biblioteca poderia fornecer o acesso a tantos livros quanto comporta a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, respeitando-se os direitos e licenças devidos.

»O acesso à produção livresca de países menos desenvolvidos pode realizar-se de maneira direta se os livros forem disponibilizados em bancos de dados digitais, inclusive de grandes livrarias, como a Amazon, já citada anteriormente, que através da publicação digital em seu site disponibiliza livros digitais de, teoricamente, qualquer parte do planeta, favorecendo o intercâmbio cultural, desde que, claro, as línguas sejam compreendidas.

»Culturas antes excluídas podem, assim, disponibilizar seus produtos ao mesmo tempo em que acessam os de outras, embora se deva considerar um grande número de fatores aqui envolvidos, como, por exemplo, valor e conhecimento da existência das obras, disponibilidade de aparelhos para leitura e qualidade das redes de transmissão de dados.

»Outra forma de uso dos e-readers é voltada aos livros e documentos raros, que até então têm sua disponibilidade restrita, por questões de preservação. Alguns, inclusive, não podem ser acessados fisicamente nem por especialistas, devido ao estado frágil em que se encontram. Como solução, as bibliotecas podem digitalizar esses materiais e disponibilizá-los para acesso livre, conjugando, assim, a preservação dos originais com a disponibilidade das fontes de informação. A Biblioteca Brasiliana, situada no campus Butantã da Universidade de São Paulo, procura investir nesse sentido, ao disponibilizar parte do rico acervo de brasiliana que possui, formado durante mais de sessenta anos pelo empresário José Mindlin e sua esposa, a restauradora Guita Mindlin. (Nota: A coleção Guita e José Mindlin conta com uma biblioteca de referência em brasiliana, deixada de herança ao casal por Rubens Borba de Moraes, reconhecido bibliófilo e especialista em livros raros que tratam do Brasil.)

»Para que este cenário se realize, entretanto, é impreterível que, conforme já se salientou, todos possam ter a capacidade de ascender, financeiro, operacional e intelectualmente, aos equipamentos de forma igualitária ou, ao invés de aproximar, o e-reader tratará de segregar ainda mais aqueles que já são excluídos. Vencidos tais obstáculos, as perspectivas para o livro digital são indubitavelmente promissoras. [...]

»Não há garantia de que o livro digital perfurará todos os estratos sociais, como fez por exemplo, o celular, a televisão e o rádio. Se a tecnologia não utiliza, mas sim é utilizada, se é demandada, cabe população gerar sua demanda e, assim como ocorreu com esses meios de comunicação, tornar o e-reader popular, somado o auxílio de políticas públicas efetivas para a aquisição dos mesmos. Se vai atender a uma demanda latente por leitura ou se concentrar em determinadas classes sociais, não há dados suficientes para afirmar. Quando se aventa as novas possibilidades que surgem, percebe-se que a fronteira a ser dissolvida pelo livro digital não é apenas a do suporte, como limite do texto, mas também a do espaço e dos meios, como limite do acesso.»




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