Paulo de Tarso Irizaga Pereira
O aspecto viral das mídias sociais: uma abordagem pragmática
Tesis de Maestría
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) | Faculdade de Letras | Programa de Pós-Graduação em Letras | Porto Alegre | BRASIL
Extracto del apartado 6 del capítulo 2 (de la tesis en PDF)
«Ciberpragmática
»Ciberpragmática refere-se ao ramo da Pragmática Cognitiva que tem por objetivo estudar sistematicamente os padrões de comunicação e interação humanas em um ambiente mediado pela Internet. O termo, cunhado por Yus (2011), designa uma abordagem específica para análise de textos virtuais, com base na TR [Teoria da Relevância] (Sperber & Wilson 1986, 1995).
»A comunicação na internet apresenta características linguísticas híbridas entre a espontaneidade do sistema oral e estabilidade do sistema escrito, engendrando, desta forma, estratégias únicas desse meio. No entanto, de acordo com Yus (2011), não há diferença alguma entre a interpretação de mensagens enviadas em contextos físicos e aquelas expedidas em um cenário virtual. Uma vez que a comunicação é uma habilidade humana, variações ocorrem apenas na forma de ativá-la e na natureza dos meios pelos quais os articuladores se engajam interativamente.
»Um dos pontos de interesse no âmbito da ciberpragmática é o estudo das questões envolvendo a identidade dos usuários da Internet. Conceitos como comunidade virtual, apelido (nicknames), avatares, usuários falsos (fakes), trolls e redes sociais apresentam características que mesclam os comportamentos que as pessoas mantêm em ambiente físico com as possibilidades próprias do meio virtual. O exame das interações entre usuários em contexto digital permitiu observar mudanças importantes que o meio efetua no que tange à comunicação humana, como o desrespeito às máximas de Grice.
»Também é objeto desta doutrina pragmática a pesquisa envolvendo a qualidade de processamento da informação em páginas na web. Conceitos tradicionais como intencionalidade, ambientes cognitivos e manifestação mútua passam por uma reanálise à luz dos fenômenos peculiares que são introduzidos graças à adoção revolucionária do meio intermidiático. Além disso, novos termos são criados a fim de abarcar aspectos relacionados à relevância da comunicação, como a satisfação dos internautas com os mecanismos de busca, os padrões de interatividade, spams, a irrelevância de algumas páginas web e o acúmulo de informações a ser processadas. Problemas envolvendo a transformação de formatos e plataformas, já que estão diretamente ligados ao aumento ou diminuição dos esforços mentais, também são estudadas no âmbito dessa proposta.
»A natureza dos novos gêneros textuais (que chamamos, no âmbito desse trabalho, de output virtual) emergidos na internet é importante fonte de informação e pesquisa para essa vertente de estudos, uma vez que tais formatos influenciam diretamente na estilística dos diálogos e são determinantes para a interpretação das sentenças. Enunciados cujos eventos de fala se dão em uma sala de bate-papo possuem características distintas daqueles encontrados em uma troca de e-mails, o que pode resultar em efeitos díspares como o aumento do esforço mental (múltiplas mensagens em sequência de uma sala virtual) e a maximização da relevância (histórico de mensagens ordenado por data). Além destes, aspectos como a polidez (também chamada de netqueta) e o uso de recursos semióticos nas mensagens, como os emoticons e imagens compartilhadas têm sido também objetos de estudo no ramo.
»Por fim, é de especial interesse para este trabalho a abordagem de Yus (2014) a respeito das funções pragmáticas que os emoticons podem desempenhar. Argumentamos que virais podem ocupar tarefas semelhantes, diferenciando-se apenas por contarem com mais recursos paralinguísticos. Abaixo, resumimos as funções dos emoticons, conforme a nomenclatura dada por Yus (idem):
»1. Revelar a atitude proposicional que subjaz ao enunciado e que seria difícil de identificar sem a atitude do emoticon: ocorre quando emoticons tentam passar a ideia de expressões como lamento que/ fico feliz que/ duvido que etc.;
»2. Comunicar maior intensidade de uma atitude proposicional que já esteja verbalmente manifesta;
»3. Reforçar ou mitigar a força ilocucionária de um ato de fala;
»4. Contradizer o significado explícito de um enunciado (brincar, fazer troça);
»5. Contradizer o significado explícito de um enunciado (ironia);
»6. Acrescentar um sentimento ou emoção ao conteúdo proposicional do enunciado;
»7. Acrescentar um sentimento ou emoção ao ato comunicativo em sua totalidade, não apenas ao enunciado;
»8. Comunicar a intensidade de um sentimento ou emoção que se encontra verbalmente codificada.
»Com base nestes pressupostos, no capítulo seguinte será proposta uma taxonomia para os virais, seguida da descrição linguística que cremos ser apropriada para identificar seus fenômenos.
»REFERÊNCIAS
»YUS, Francisco. Cyberpragmatics: internet-mediated communication in context. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 2011.
»YUS, Francisco. Not all emoticons are created equal. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, SC, v. 14, n.3, p.511-529, set/dez 2014.
»SPERBER, Dan & WILSON, Deirdre. Relevance: communication and cognition. Berlin: Blackwell Publishers, 1995. 2ª Edição.»
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