julio 20, 2016

Cezar Taurion: «Como liderar a transformação digital?»




CIO Brasil






«Uma disrupção gera desafios e riscos, mas abre novas oportunidades. O CIO deve atuar proativamente para ser um “digital attacker”

»Um tema recorrente em meus posts é a transformação digital e seus impactos, que já estamos vivenciando na sociedade, nas empresas e na TI. É um assunto fascinante, e volto a ele hoje.

»Cada vez mais os mundos virtuais e físicos se interligam. Vemos evoluções significativas nas plataformas de Cloud, nos conceitos que permeiam a Ciência de Dados e o Uso de Big Data e Analytics, a mobilidade se tornando ubíqua e as redes sociais já sendo encarada de forma muito mais ampla que uma simples presença no Facebook. Aliás recomendo estudar este último assunto pela ótica da “social physics”, que integra o estudo da engenharia das redes sociais motorizadas pelo Big Data.

»Os negócios caminham, indubitavelmente, para serem digitais, qualquer que seja o setor de indústria, do entretenimento ao agronegócio, da mídia à mineração. A Internet das Coisas vai acelerar este processo. Sensores, robótica, machine learning, impressoras 3D, Big Data & Analytics, Cloud Computing, tudo isso junto, potencializa movimentos de transformação de impacto similar ao deslocamento de placas tectônicas.

»A transformação digital é muito mais que uma simples e tradicional automatização. Os sistemas básicos, que suportam o back office já deveriam ter sido implementados e quem ainda não o fez está correndo contra o tempo, não para inovar, mas para se manter um pouco menos atrás.

»Entender o fenômeno da digitalização e fazer os primeiros movimentos pode trazer como prêmio a liderança em um novo cenário de negócios que já está delineado: a economia digital. A complexidade do cenário de negócios cresce exponencialmente. Já em 2010, estudo da IBM com CEOs, “Capitalizing on Complexity” mostrava isso claramente.

»A competição também subiu de patamar. O competidor de daqui a alguns dias pode estar fora de seu radar hoje. No cenário que estávamos acostumados a gerenciar, a competição era como uma disputada corrida de F1. Temos o grid de largada, sabemos quem são os competidores e passamos a corrida buscando arduamente subir de posição, lutando para não sermos ultrapassados. Mas hoje, o competidor que pode ser o vencedor entra inesperadamente pela lateral da pista e simplesmente joga você para fora da corrida. O resultado? As fronteiras que demarcam indústrias estão simplesmente desaparecendo.

»A economia digital abre oportunidades e riscos para os CIOs. Demanda um pensamento criativo e inovador. Demanda pensar digital. Um exemplo, as empresas que nasceram no mundo da Internet, como Amazon, Facebook, Google, PayPal, eBay, AliBaba, AirBnB, Uber, Linkedin, Tesla, e inúmeras outras, já nasceram com DNA de Cloud, Big Data e outras tecnologias embutidas em seus modelos de negócio. Parecem bem diferentes...não usam mainframes e muitas delas estão deixando de comprar servidores dos fabricantes tradicionais. Mas serão, realmente, tão diferentes? Enquanto isso, nas empresas pré Internet ainda se discute se irão operar em cloud ou se Big Bata tem valor para o negócio...

»Claro que a velocidade das respostas das empresas a este processo varia de setor para setor. Alguns são afetados mais rapidamente e outros levarão algum tempo antes de serem afetados. Mas, mais cedo ou mais tarde, todos os negócios serão information-driven e nenhuma empresa passará ilesa pela transformação digital.

»As mudanças podem ser nos processos de negócio. Um exemplo é o SenseAware, da Fedex, que utiliza sensores para garantir que pacotes com conteúdo sensível seja monitorado quanto a temperatura, exposição à luz e condições de armazenamento. Serviço criado para atender, por exemplo, ao transporte de órgãos humanos. Aliás, importância de ser uma empresa information-driven está nas palavras de seu fundador há mais de 35 anos atrás: “The information about the package is as important as the package itself”.

»A transformação também pode ser nos modelos de negócio. A indústria automotiva passa a ter novos concorrentes como Apple e Google, e com o conceito de “shared economy” decolando, começa a trilhar o caminho de ser uma empresa de serviços. O CEO da Ford no keynote do CES 2015 disse que a empresa está se transformando em empresa de tecnologia, deixando de ser exclusivamente fabricante de veículos para ser uma empresa de serviços de mobilidade. Vai continuar fabricando carros, óbvio, mas a receita tenderá a crescer em torno dos seus serviços e não da venda em si. A sua palestra pode ser vista (50 minutos) aquí.




»Agora, por exemplo, a Internet das Coisas e as impressoras 3D começam a revolucionar as indústrias tradicionais. A IoT não apenas poderá criar novos produtos, mas possibilitará a criação de novos modelos de negócio baseados em serviços, gerados pelas informações que os próprios objetos gerarão. Mais um passo na direção de uma empresa infomation-driven. E as impressoras 3D mostram que devemos ter uma visão muito mais estratégica que um simples olhar de curiosidade tecnológica. É possível transformar toda uma cadeia logística com a simples implementação de uma rede de impressoras 3D distribuídas pelo mundo produzindo um produto diferente em cada local. A logística sai do deslocamento de produtos físicos para envio de arquivos digitais. O próprio processo adotado por estas impressoras, manufatura aditiva, consome menos material (menos desperdício) que a manufatura subtrativa adotada hoje.

»Neste novo cenário, a responsabilidade do CIO aumenta significativamente. Nas dinâmicas que venho participando com CIOs nestes últimos anos vejo claramente que alguns, é claro, já estão inseridos no mundo digital enquanto outros ainda acreditam que este tema não deva ser liderado por TI ou que mesmo seja de responsabilidade da TI! O papel da TI e do CIO deve ser repensado, até por questão de manter sua relevância no mundo digital.

»A TI de hoje não será em absoluto a TI de daqui a poucos anos. O perfil essencialmente técnico perde relevância e demanda-se perfis de executivos de negócio. Para muitos é uma mudança de postura bastante radical. É enxergar que não é mais suficiente uma TI que suporte o negócio, com seus PDTIs e projetos que demandam meses e anos. Planos estratégicos de muitos anos perdem valor e a TI pode e deve criar uma plataforma que permita a empresa aproveitar os “business moments”, aquelas oportunidades transientes que, se exploradas no tempo certo, podem criar vantagens competitivas substanciais.

»A TI se transforma em um componente essencial do negócio e, portanto, neste contexto os CIOs devem adotar postura proativa, de inovação e liderança criativa. Ir além das discussões técnicas com os fornecedores de tecnologia, mas entender como a tecnologia poderá impactar ou revolucionar seu setor de indústria e sua empresa. Felizmente, hoje, para ser criativo, não são necessários grandes investimentos. Com o uso de Cloud e ferramentas de Big Data Analytics open source conseguimos explorar rapidamente novas ideias, a custos bastante razoáveis.

»TI passa a ter que gerenciar também um ecossistema de fornecedores e parceiros muito mais abrangente e complexo. Enquanto antes, apenas grandes e tradicionais empresas de TI eram consideradas, vemos nitidamente que as principais inovações surgem de novas empresas. As tradicionais, apesar de seu tamanho, longevidade e reputação, perdem sua relevância, e vemos exemplos claros de algumas delas tentado desesperadamente mudar seus rumos e se adaptarem aos novos tempos.

»A guerra no mundo digital é rápida e letal, e o disruptor pode sofrer ruptura em pouco tempo. O exemplo do iTunes é emblemático. Após ter destruído valor da indústria fonográfica tradicional, está perdendo espaço para Spotify e seu modelo de streaming.

»Se o CIO quiser aumentar ou pelo menos manter sua relevância na empresa, deverá liderar o processo de transformação digital. Proativamente, propor dinâmicas com os executivos das suas empresas para debater o futuro além do final do ano e desenharem, em conjunto, a estratégia digital da corporação. Buscar olhar para empresas de outros setores, olhar as empresas da Internet, bem como estudar novos negócios criados por startups. Mesmo que não sejam de seu setor de indústria. Criar uma plataforma para suportar um ecossistema ágil e flexível, que o ajude a implementar rapidamente novas soluções, olhando para além dos fornecedores tradicionais de tecnologia, passa a ser um fator decisivo.

»Impossível continuar a tentar fazer planos de longo prazo. No máximo servem de direcionamento, mas estes planos devem ser revistos, pelo menos trimestralmente para se manterem atualizados com o ritmo exponencial.

»Matar projetos vai ser algo comum daqui para a frente. Se demorar mais que o necessário, serão substituídos. Coisa impensável em TI até agora. O modelo deve ser de prototipação e colaboração, com os conceitos ágeis e DevOps adotados por empresas da Internet fazendo parte integrante de seus processos.

»A área de TI deve atuar de forma flexível, multimodal, com processos mais estruturados para sistemas legados que demandam mudanças mais lentas e outros mais ágeis, como os apps para os contatos diretos com os clientes. E logo, também para muitos dos processos “core” da empresa.

»O segredo é criar a auto ruptura, ou seja, provocar a disupção antes que outros a provoquem na sua empresa e no mercado que ela atua. Uma disrupção gera desafios e riscos, mas abre novas oportunidades. O CIO deve atuar proativamente para ser um “digital attacker” em sua empresa.

»Diante deste contexto, na minha opinião, a pior decisão que um CIO pode tomar diante destas transformações que não são teorias, mas palpáveis, é simplesmente omitir-se e continuar exclusivamente concentrado na sua árdua, sem duvida, tarefa de gerenciar o dia a dia.

»É uma opção, mas o risco é manter-se ou não relevante para sua empresa no futuro próximo. Afinal a falha em entender e agir efetivamente para responder à nova economia digital vai tornar sua empresa vulnerável à disrupção, com todas as suas consequências.


»Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data.»





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