Regina Rossetti e Clóvis Furlanetto
«Produção de texto legível para a Internet»
Pauta Geral. Estudos em Jornalismo, vol. 3, n.º 1, 2016
Pauta Geral. Estudos em Jornalismo | Universidade Estadual de Ponta Grossa | Mestrado em Jornalismo | Ponta Grossa | Paraná | BRASIL
Extracto de páginas 45-46 y 48-54 del artículo en PDF
«A influência da cor na legibilidade
»Outro elemento essencial é a cor, pois a Internet é uma tela em branco de uma pintura que vai ganhando vida à medida que o artista — que neste caso podemos citar como sendo os desenvolvedores, webdesigners, jornalistas, publicitários, educadores, ou seja, todo aquele que de alguma maneira — contribui para a criação do espaço virtual e coloca um pouco de sua experiência na concepção de um site, blog ou outro ambiente, onde as pessoas interagem em busca de conhecimento, entretenimento, diversão ou qualquer tema que lhe interesse.
»No início dos anos 1990 não haviam computadores como os atuais e só existia uma cor: as telas verdes dos antigos 386 ou 486 e lá pela metade desta década os monitores preto e branco surgiam para dar outra tonalidade à monocracidade dos PCs. Por este motivo quando a Internet desembarcou no Brasil em 1995 não havia uma preocupação gritante com a qualidade do que era publicado na WEB, na realidade a implementação da WEB 2.0 onde a multimídia pode ser uma aliada mais ativa dos desenvolvedores é que possibilitou o crescimento e apelo visual diferenciado.
»A cor é um elemento presente e essencial em todos os veículos, com exceção do rádio, mas mesmo assim está no imaginário do ouvinte ao “pensar” a notícia, ao ouvi-la pelo seu aparelho. Ela é responsável por sensações que viabilizam ou impedem o acesso de alguns internautas, pois a sua força pode estar relacionada com alguma questão emocional evocada por sua visualização como afirma Modesto Farina em sua obra Psicodinâmica das Cores em Comunicação:
»As cores constituem estímulos psicológicos para a sensibilidade humana, influindo no indivíduo, para gostar ou não de algo, para negar ou afirmar, para se abster ou agir. Muitas preferências sobre as cores se baseiam em associações ou experiências agradáveis tidas no passado e, portanto, torna-se difícil mudar as preferências sobre as mesmas. (FARINA, 2013, p.96)
»A sua força também é mais presente nas telas dos computadores do que nos materiais impressos, pois neste segundo são utilizadas apenas quatro tonalidades que não têm muitas nuances diferenciadas: são as chamadas CMYK, onde o C é o Ciano (uma mistura das luzes azul e verde), M é Magenta (um tom de vermelho), Y é o Yellow (amarelo) e o K representa a palavra Key (em inglês, chave) que é a cor preta que faz a ligação entre as demais cores para formar suas variações. É um tipo de sistema de cores que só pode ser utilizado em materiais impressos.
»Já para a Internet (telas dos computadores e mídias móveis) utilizamos o sistema RGB (Red: vermelho, Green: verde e Blue: azul) com estes sistemas podemos chegar até 16 milhões de combinações e tonalidades de cores possíveis o que abriu um novo mundo para as imagens (estáticas e animadas) e a criação de ambientes virtuais onde o internauta possa navegar com uma sensação maior de realismo.
»[...]
»Os veículos de comunicação e o texto digital
»Como em outras mídias, não há uma padronização textual, ou seja, cada veículo segue seu próprio manual de redação e estilo que representa o conjunto de ideias e conceitos que devem ser apresentados em uma matéria jornalística. Claro que a obediência das regras gramaticais e de concordância é um ponto em comum para a produção dos materiais jornalísticos.
»Esta falta de padrão é notada em maior escala na Internet, pois quando os jornais impressos perceberam a importância em manter uma versão digital de seus periódicos na grande rede de computadores, não houve a preocupação em propiciar ao leitor um novo estilo de texto, nenhuma formatação especial, apenas a migração do texto do papel para a tela do computador.
»Isto gerou graves problemas de leitura, pois a leitura no impresso é feita de maneira linear, ou seja, sem a interação com outros elementos como vídeos e um maior número de imagens e segue um único sentido de cima para baixo. Já no online a sequência de leitura segue o mesmo padrão da leitura tradicional, pois é o que o leitor está habituado como diz Pinho sobre o elemento do design sequência que:
»Portanto, a sequência diz respeito à condução do leitor pelos elementos da página. Como os olhos movimentam-se habitualmente da esquerda para a direita e de cima para baixo, o designer pode dispor os elementos para que eles comecem se fixando no ângulo superior esquerdo e desçam progressivamente em diagonal da esquerda para a direita e de cima para baixo. No movimento em “Z”, a maneira mais comum de controlar e conduzir os olhos, os elementos são colocados no caminho do que pode ser considerado o movimento normal da vista. (PINHO, 2003, p.160)
»Desta forma o leitor ou interleitor — que é o leitor dos conteúdos produzidos para a Internet e citado pelo pesquisador em suas palestras — tem o poder de “zapear” dentro dos sites que mais lhe agradar sem ficar preso às amarras da ditadura do papel que ao terminar uma folha de notícias não há mais o que fazer a não ser aguardar o dia seguinte, enquanto que na Internet as informações podem ser atualizadas a cada instante.
»(...) o texto foge da linearidade convencional imposta pelo impresso e seduz o leitor com a possibilidade de escolha na forma de ler o conteúdo, ou seja, o texto digital deve informar no início os dados principais da notícia de forma a conquistar o internauta, ou como vou denominá-lo para facilitar e adequar à nova mídia: o interleitor, o que busca a informação digital. Essa informação inicial transmite os dados básicos de uma notícia: Quem, Como, Onde e assim sucessivamente fornecendo condições de uma visão ampla do fato. Nos veículos impressos o lead inicia o texto e na sequência o mesmo é trabalhado com informações adicionais lineares em colunas e parágrafos. No meio digital o lead tem funcionado como uma espécie de “vitrine” da matéria, ou seja, o interleitor lê o conteúdo inicial e se gostar pode se aprofundar no assunto através de um hiperlink disponível no texto. (FURLANETTO, 2014, p.2)
»No online temos a possibilidade de agregar estilos de vários tipos de mídia: o texto do impresso, a imagem e som da televisão e a agilidade do rádio que é relacionado ao conceito de multimidialidade que estabelece entre o indivíduo e o conteúdo uma interação que permitirá a junção de mídias distintas [NOTA 3: Maria Clara Aquino Bittencourt – revista ALCEU - n.28 - jan./jun. 2014 – adaptado]. Nilson Lage cita “a existência de uma integração entre o texto e a organização das páginas, o estilo gráfico e os infográficos estáticos ou dinâmicos”:
»Não se trata, aqui, de escrever como no jornal, mas de projetar o texto em dois ou três passos: (a) o título ou flash lead; (b) na mesma página ou em hiperlink um bloco que corresponde ao lead impresso, mas lembra, pela linguagem, a nota lida ao vivo na televisão; e, facultativamente, (c) o corpo da matéria com a opção de imprimir. É possível, mas ainda raro, que o portal ofereça a matéria prima de que se extraiu a informação: o inteiro teor da entrevista telefônica; link para a íntegra de documentos legais etc. (LAGE, 2012, p.175)
»A produção digital de conteúdo significa, segundo o autor Bruno Rodrigues (2000, p.5), “aliar texto, design e tecnologia, e tratá-los como um componente único — a informação”, ou seja, não basta termos um conteúdo bem produzido, devemos ter como complementação os novos recursos tecnológicos e uma diagramação atraente para que o fato transformado em informação de valor possa ser devidamente assimilado pelo leitor.
»Algumas regras podem ser adotadas para melhorar a produção de textos na Internet, mas é sempre importante lembrar que estamos lidando com diversos tipos de público e o conteúdo pode ser considerado, em muitos casos, como um produto a ser apresentado aos clientes (usuários), claro sem perder o objetivo principal de todo texto jornalístico: informar e apurar o seu fato.
»Neste ponto a produção digital conquista a cada dia um espaço maior por permitir agregar maior valor aos textos e possibilitar uma maior interação entre o veículo e seu leitor — ou agora também conhecido como usuário — que pode usufruir dos benefícios que a tecnologia aliada à produção textual fornece.
»Ter em mente o tipo de linguagem ou abordagem que o cliente quer dar ao produto. O conteúdo textual está diretamente ligado à preocupação com o consumidor. É nesse momento que se estabelecerão os tipos de expressões que podem ser usadas ou adaptadas. Se o público é crítico e politizado, pode-se conquistá-lo com pequenas ironias no texto. Se o público é ligado à música, é claro que poderão ser usadas, desde que moderadamente, expressões que dizem respeito ao estilo definido (por exemplo, no lançamento de um disco num site). Se o público valoriza a informação e a qualidade de uma empresa em detrimento das qualidades das concorrentes, é preciso pôr tudo isso num texto claro e direto, de forma séria e concisa, pois, nesse caso, estamos lidando com empresários. (MOURA, 2002, p.77)
»Os nichos de leitores na Internet possibilitam a criação de conteúdos diferenciados, seguindo os gostos e tendências deste público específico. Este ponto reflete a questão da usabilidade que um sistema tem em agradar o seu usuário.
»Segundo o autor Eduardo Mercovich, “definimos usabilidade de um sistema ou ferramenta como uma medida de sua utilidade, facilidade de uso, facilidade de aprendizagem e apreciação para uma tarefa, um usuário e um determinado contexto”. Desta forma temos a condução do internauta pela interface desenvolvida e aplicada ao gosto de seu público.
»O mesmo ocorre em maior grau no Facebook, onde as pessoas procuram outras que tenham os mesmos gostos e interesses — neste caso os veículos buscam diversificar criando páginas onde relacionam seus leitores com os interesses procurados. Só para citar uma rede social que foi desativada em 2014, no ORKUT, eram trabalhadas comunidades ao invés de páginas. Os interessados em determinados assuntos específicos criavam locais em que suas ideias e expressões de vida poderiam ser exploradas por pessoas com os mesmos objetivos. […]
»As diferenças entre mídias impressas e digitais
»Para termos uma ideia clara das diferenças entre os veículos impressos e os digitais é necessária uma breve explicação sobre o tipo de leitura encontrada em cada um. No primeiro temos uma forma linear de texto e padronização de tamanho para a folha do jornal. O formato “Standard” é adotado pelos maiores jornais do mundo como o ideal para uma leitura visualmente agradável. Na Internet a única limitação é a tela do computador, mas que não impossibilita uma leitura ágil. O recurso do hiperlink permite ao usuário visualizar outro texto ou parte do mesmo texto, a partir de palavras ou caracteres destacados na apresentação visual do hipertexto (textos nos quais existem palavras ou símbolos que estão ligados a outros textos).
»De forma bem simplificada, poder-se-ia dizer que o termo hipertexto designa uma escritura não-sequencial e não-linear, que se ramifica de modo a permitir ao leitor virtual o acesso praticamente ilimitado a outros textos, na medida em que procede a escolhas locais e sucessivas em tempo real. (KOCH, 2007, p.25)
»Com a utilização desses recursos o texto foge da linearidade do convencional imposta pelo impresso e seduz o leitor com a possibilidade de escolha na forma de ler o conteúdo. Além disso, há elementos que caracterizam a melhoria da leitura na Internet e representam a navegabilidade, interação e compreensão dos conteúdos existentes.
»Definamos a navegabilidade como a maneira que o internauta se move dentro de um projeto WEB (site, blog, rede social) a interação fornece as ferramentas necessárias para que as pessoas possam trocar ideias e “conversar” com o conteúdo, já a compreensão dependerá das referências dos usuários e de suas relações com os temas abordados - neste ponto é importante ressaltar que há um novo elemento que gera o tipo de leitura que é a participação na geração do próprio conteúdo, pois a leitura nos meios digitais criou, ou melhor, possibilitou ao leitor a posição colaborador mais ativo da formação da informação.
»O principal ponto com o qual os veículos de comunicação tradicionais lidam é o fato de que as ferramentas da web 2.0 permitem que qualquer cidadão, em qualquer parte do mundo – desde que tenha acesso à rede -, publique fatos, opiniões, análises, sem se preocupar com questões como custos de impressão ou distribuição. O resultado disso? Se antes era função exclusiva da mídia e de seus profissionais decidir quais temas seriam publicados e quais não – com base em critérios como relevância e, por que não?, espaço ou tempo disponível -, agora os assuntos são publicados em todas as partes e a todo momento. Se antes se filtrava para publicar, hoje se publica para depois filtrar. (KÜNSCH;MARTINO, 2010, p.132 e 133)
»Nos dias atuais vivemos o problema do acúmulo de tarefas e a falta de condições para selecionar um momento do dia e aprofundar uma leitura de jornal. Esse “tempo” de análise textual está comprovadamente reduzido e por este motivo os sites que fornecem conteúdo para Internet buscam um texto objetivo, como deixa claro Moura (2002, p.56): “Frases curtas e pontuação são essenciais na rede. Controlar o ritmo da frase e preferir sempre períodos curtos fazem a diferença para quem lê numa tela de computador.”
»Mas há uma convergência de outras mídias que agregam maior valor a notícia, quando o conteúdo é publicado e tem a opção de exibir um vídeo, ou se colocar mais imagens do fato para ilustrar como ocorreu em uma sequência e não apenas aquela foto escolhida no meio de tantas outras.
»No capítulo anterior foi citado que o tipo de leitor mais comum na Internet é o “scanner”, que faz uma leitura por varrimento visual para buscar o que for de seu interesse. Mas existem ainda mais quatro tipos de leituras que pode ser encontradas e são citadas por Pinho (2003, p.192), que são as leituras superficial, por varrimento, intensiva e extensiva:
»Leitura superficial: Os leitores movem rapidamente seus olhos sobre a tela do computador para verificar se o material é relevante para suas necessidades. Similar ao que acontece com o texto impresso, quando um leitor corre primeiro os seus olhos no documento para retirar dele o que é essencial. Leitura por varrimento: Se o texto da WEB preenche suas necessidades, os leitores vão rapidamente focalizar partes específicas de informação e podem depois fazer a rolagem da tela. Leitura intensiva: Como no documento impresso, os leitores param, por haverem decidido que o texto é relevante, e leem uma pequena quantidade de conteúdo para obter uma informação mais aprofundada. Leitura extensiva: A grande maioria dos usuários não gosta da leitura extensiva online e preferem imprimir o texto para ler, por razões como o fato de a leitura na tela ser mais lenta e a baixa resolução do monitor provocar fadiga visual. Alguns usuários ainda têm restrições de tempo por causa do custo da ligação telefônica com o provedor ou por estar acessando a internet em computador de uma biblioteca pública. (HEMMERICH; HARRISON, 2002 apud PINHO, 2003, p.192)
»Temos que apenas desconsiderar parcialmente as afirmações do tipo de leitura extensiva, pois atualmente não temos mais o problema de acesso por conexão discada e falta de equipamentos (computadores), mas este ponto é interessante ser discutido brevemente para que possamos ter uma ideia de como a leitura na internet avançou nos últimos anos, mas ainda há pessoas que preferem ler em papel a fazê-lo na tela dos computadores.
»Quando não havia conexão por fibra ótica, apenas para citar um tipo, o usuário era obrigado a se conectar por meio de um modem e linha telefônica, a alta tarifa das ligações, a lentidão da conexão e o alto custo dos equipamentos deixavam grande parte da população fora do acesso a WEB. Com a popularização dos hardwares e avanços tecnológicos constantes, atualmente é quase impossível encontrar alguma pessoa sem nenhum tipo de acesso à internet, seja por smartphone, tablete o computadores (desktops ou notebooks) o que contribuiu para a melhoria da comunicação mediada por computadores (CMC) e a procura por informações aumentou com o acesso aos meios de comunicação disponíveis na grande rede.
»Então um grande facilitador da leitura nos meios digitais é a tecnologia aliada aos recursos de acessibilidade existentes, mas um grande limitador ainda é a tela onde são exibidas as notícias, sejam monitores maiores ou menores. O problema é de que maneira serão formatadas as informações para a inserção e absorção do público.
»O internauta busca agilidade e objetividade, ou seja, textos extensos afastam um possível leitor da internet. O que deve ser trabalhado é a fragmentação por meio dos links, como citado anteriormente, a publicação de materiais longos e cansativos apenas afastará os leitores do site ou portal, neste caso as redes sociais não trabalham com esse tipo de conteúdo mais longo, os usuários precisam ter a informação de maneira mais curta e direta, dada a necessidade constante de tempo para outros afazeres e procurar transmitir a informação de forma clara é a melhor solução.
»REFERÊNCIAS
»BITENCOURT, M. C. A. Interatividade, hipertextualidade e multimidialidade no processo de convergência da cobertura de protestos pelo coletivo Mídia Ninja. Revista ALCEU, Rio de Janeiro, v. 14 - n.28 - p. 188 a 201 - jan./jun. 2014.
»FARINA, M.; PEREZ, C.; BASTOS, D. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgar Blucher., 2013.
»FURLANETTO, C. A Legibilidade textual na produção de conteúdo jornalístico na Internet. 10º Interprogramas de mestrado Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, SP - 7 e 8 de novembro de 2014.
»KOCH, I. G. V.: Hypertext and the construction of sense. Alfa, São Paulo, v.51, n.1, p.23-38, 2007 – Disponível em http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/1425/1126
»KÜNSCH, D. A.; MARTINO, L. M. S. Comunicação, jornalismo e compreensão. São Paulo: Pleiade, 2010.
»LAGE, N. Estrutura da notícia. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Atica, 2012.
»MOURA, L. de S. Como escrever na rede: manual de conteúdo e redação para Internet. Rio de Janeiro:Record,2002.
»PINHO,J.B. Jornalismo na Internet: planejamento e produção da informação on-line. São Paulo:Summus,2003.
»WARDE, M. Jornalismo online. São Paulo: Roca, 2006.
»WILLIAMS, R.; TOLLETT, J. Web design para não-designers: um guia objetivo para você criar, projetar e publicar o seu site na web. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001.»
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