Marcel Crahay e Géry Marcoux
«Construir e mobilizar conhecimentos numa relação crítica com os saberes»
Cadernos de Pesquisa, vol. 46, n.º 159, 2016; tradução de Luciano Loprete
Artigo publicado originalmente em: Bourgeois, E.; Chapelle, G. (Eds.). Apprendre et faire apprendre. Paris: PUF, 2011
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Extracto de apartado en páginas 262-263 de la publicación en PDF
«Superar a aquisição de saberes mortos
»O problema é antigo. Desde 1912, num livro intitulado Talks to teachers on Psychology, William James explicava que, com muita frequência, os alunos dispõem de conhecimentos que são incapazes de utilizar para resolver problemas cotidianos. Sua aptidão em mobilizar o conhecimento adequado depende notadamente da maneira como a pergunta lhes é feita.
»Alguns anos mais tarde, em seu livro The aims of education (1929), Whitehead exortava os professores a não entulhar a criança com ideias inertes. Na Europa, Decroly, em Les intérêts de l’enfant (1925), denunciava também o fracionamento do saber que gravava o ensino e tentava remediar o problema recomendando uma pedagogia orientada para centros de interesses. Pode-se classificar a educação funcional de Claparède (L’éducation fonctionnelle, 1958) ou a educação para o trabalho de Freinet (L’éducation au travail, 1945) nesse mesmo veio.
»Mais recentemente, apoiados em pesquisas, vários autores se alternaram na demonstração de que os alunos dominam conhecimentos matemáticos e/ou científicos a fim de passar nas provas escolares, mas não os mobilizam para resolver problemas da vida cotidiana. Mais ainda: parece que a maioria das crianças e dos adolescentes desenvolve suas reflexões pessoais de modo independente da formação que recebem na escola. A maioria dos alunos seria dotada de um duplo repertório de conhecimentos e/ou competências: de um lado, o saber escolar e, de outro, aqueles originados no uso da internet, nas interações com colegas, em leituras dispersas, assim como em suas próprias reflexões sobre o mundo.
»A escola deve definitivamente assumir uma tripla missão em relação aos saberes. Ela passa a ter o dever de promover a construção de saberes (designados pelos psicólogos como conhecimentos declarativos) e de savoir-faire (ou conhecimentos de procedimentos) julgados desejáveis, ou até mesmo indispensáveis ao desenvolvimento pessoal e à inserção na sociedade atual. A escola continua sendo o único lugar onde o aprendizado de certos saberes (a leitura, a aritmética e, mais globalmente, a matemática, etc.) pode ser assegurado em benefício da maioria dos indivíduos.
»Uma missão suplementar é atribuída à escola: os saberes escolares devem se tornar saberes vivos, utilizados pelos indivíduos a fim de pensar no seu devir, para integrar-se à sociedade como cidadãos responsáveis e atuar eficazmente no plano profissional.
»Finalmente, a escola deve considerar o fato de que os alunos e estudantes se apropriam de saberes fora da escola, através de diferentes fontes. Ela tem o dever de levar esses saberes em consideração, sobretudo quando sua origem é alheia e ajudar os alunos e estudantes a analisá-los de modo crítico.
»A escola é, em outras palavras, responsável pelo desenvolvimento por parte dos estudantes de uma reflexão de tipo epistemológico: em que é preciso acreditar ou não acreditar e por quê. Em suma, a escola tem por missão levar os alunos e estudantes a uma relação crítica com os saberes.»
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