septiembre 16, 2015

Interação, interculturalismo, inter–



Avelino da Rosa Oliveira, Neiva Afonso Oliveira e Viviane Chequini Manzello
«Apontamentos críticos para uma educação intercultural»

Revista Iberoamericana de Educación (RIE), vol. 68, n.º 2 (15/07/15). Número Especial no monográfico.

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Extracto de páginas 10 y 23-24 del artículo en PDF




«O surgimento do interculturalismo, diferentemente do que se possa pensar, confunde-se com a questão multicultural. Ambos emergiram da luta das minorias, principalmente étnicas e raciais contra o preconceito, a discriminação e a exclusão social. Ainda que, do ponto de vista histórico, ambas tenham a mesma procedência, foi com uma melhor compreensão da questão da diversidade cultural e de sua complexidade que o interculturalismo se foi solidificando. Assim, ganha força em âmbito mundial a questão da interculturalidade e suas implicações, seja no campo político, econômico ou cultural.

»O reconhecimento da diversidade é apenas o primeiro passo, embora essencial, para, a partir dele, pensar-se o interculturalismo. Apesar de ser consequência da luta das culturas oprimidas, são diferentes as formas de abordagem da questão por multiculturalistas e interculturalistas. Os multiculturalistas concentram-se principalmente em evidenciar a diversidade existente, enquanto os interculturalistas vão adiante e propõem a relação, o diálogo entre essas culturas para, assim, construir um mundo menos excludente e menos preconceituoso. O multiculturalismo, segundo Fleuri (2002), “reconhece a existência de diferentes identidades culturais e defende o respeito à especificidade de cada uma. O interculturalismo, além disso, propõe o desenvolvimento de processos de interação entre os sujeitos e entre os grupos de diferentes culturas”. (p.119)

»[...]

»Um dos principais aspectos que caracterizam a educação intercultural está justamente no prefixo que acompanha o termo. O prefixo ‘inter’ nos conduz à noção de “reciprocidade, interação”. Assim, segundo Fleuri (2002, p.137-138), [...] os termos ‘multi’ ou ‘pluricultural’ indicam uma situação em que grupos culturais diferentes coexistem um ao lado do outro sem necessariamente interagir entre si. [...] Já a relação intercultural indica a) uma situação em que pessoas de culturas diferentes interagem, ou b) uma atividade que requer tal interação.

»Ainda que pareça óbvia tal reflexão, essa é a primeira e fundamental característica da educação intercultural. A partir desse ponto, surgem os demais atributos dessa corrente pedagógica. A interculturalidade, na visão de Candau (2005), objetiva a promoção de relações dialógicas e igualitárias entre pessoas e grupos culturais diferentes, tentando, sempre, trabalhar com os conflitos que emergem dessa convivência sem ignorar as relações de poder existentes. Assim, a opção por essa corrente pedagógica pré-supõe “a intenção de promover uma relação democrática entre os grupos involucrados, e não unicamente uma coexistência pacífica num mesmo território. Essa seria a condição fundamental para qualquer processo ser qualificado como intercultural.” (Candau, 2005, p. 32)

»Candau (2005, p. 33-34), ainda destaca desafios a serem enfrentados para a promoção da educação intercultural, quais sejam: penetrar no universo de preconceitos e discriminações presentes na sociedade, articular igualdade e diferença no nível das políticas educativas, promover experiências de interação sistemática com outros e reconstruir os processos de construção das identidades culturais, tanto no nível mundial pessoal quanto coletivo.

»Souza e Fleuri (2003) consideram, quando se trabalha numa perspectiva intercultural, as identidades culturais flexíveis, podendo variar conforme os sujeitos envolvidos, as relações sociais e os contextos históricos. Sendo assim, afirmam que:

»“[...] a identidade, sendo definida historicamente, é formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. À medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente”. (Souza; Fleuri, 2003, p. 56)


»Desse modo, as identidades culturais são mutantes dependendo da situação que os sujeitos ou grupos enfrentam, pois os indivíduos estão face a face com identidades múltiplas, como raça, etnia, classe, gênero etc. De acordo com sua identificação com os mais diversos universos relacionais e identitários, as pessoas desenvolvem modos distintos de conduzir-se e de interpretar a realidade. Por isso, existe o perigo de pensarmos as diferenças culturais numa lógica binária, ou seja, índio versus branco, centro versus periferia, já que isso nos levaria à incompreensão da complexidade dos agentes e das relações entre eles.»



Referências

«CANDAU, Vera Maria (Org.) (2005). Cultura(s) e educação: entre o crítico e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A.

»FLEURI, Reinaldo Matias (Org.) (2002). Intercultura: estudos emergentes. Ijuí: Unijuí.

»SOUZA, Maria Izabel Porto de; FLEURI, Reinaldo Matias (2003). Entre limites e limiares de culturas: educação na perspectiva intercultural. In: FLEURI, Reinaldo Matias (Org.). Educação Intercultural. Mediações Necessárias. Rio de Janeiro: DP&A Editora.»






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