Mônica Maria Guimarães Savedra e Marina Dupré Lobato
«Gramática e cultura contrastiva: a alternância das formas verbais na interação tempo, modo, aspecto em estudos de tradução»
Cadernos de traduçao, n.º 2, jul/dez 2014; edição especial: Depois de Babel
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Extracto de apartados 1 y 2, en páginas 122 y 130-133 de la publicación en PDF. Véanse las referencias en la publicación original del texto.
«1. Apresentação
»Em estudos anteriores desenvolvidos com base na temática de línguas em/de contato, já tivemos a oportunidade de comprovar que o processo de aquisição de línguas é um processo relativo, que envolve muitos fatores determinados pelo contexto de aquisição pelo seu uso tópico e dinâmico das línguas em diferentes ambientes comunicativos: família, sociedade, escola, trabalho. (SAVEDRA, 2007; 2009). Neste sentido, introduzimos a distinção entre bilinguismo e bilingualidade para estudar o tempo e o domínio funcional de uso de cada língua e sua intensidade de interação.
»Demonstramos que o processo de aquisição de línguas envolve a aquisição de atitudes, valores, crenças e descrenças de determinados grupos (HÖHMANN; SAVEDRA, 2008). Estudamos a estreita relação entre língua, cultura e identidade, a partir do conceito de representação linguística1, entendida como um fator sociolinguístico fundamental na determinação de políticas de uso oficial de línguas, bem como na determinação de políticas de manutenção de línguas minoritárias como descrito por Höhmann (2010) na situação do ensino do pomerano no Espírito Santo.
»Durante a realização dos estudos acima citados, foi possível identificar que ao lado de fatores sociolinguísticos e socioculturais, outros fatores, estabelecidos por dimensões conceituais e estruturais, também emanam como relevantes durante o processo de aquisição e uso das línguas nas situações de contato analisadas.
»Neste trabalho damos continuidade aos estudos anteriores sobre as representações das línguas em contextos de bi- e multilinguismo e pretendemos reunir ao lado deste paradigma de tradição sociolinguista, baseado no uso funcional da língua, o paradigma da Linguística Contrastiva (Kontrastive Liguistik), mas precisamente da Gramática Contrastiva, em interação com a Cultura Contrastiva (Kulturkontrastive Grammatik), como proposto no estudo de Götze, Müller-Liu e Traoré (2009).
»Delimitamos a pesquisa aos estudos contrastivos em língua alemã (LA) e língua portuguesa (LP), na variedade do português brasileiro (LPB). Selecionamos como elemento linguístico de análise o uso das formas verbais (FVs) em LA e em LPB nas traduções em ambas as línguas.
»No âmbito de estudos contrastivos em LA e LP, dois trabalhos realizados como teses de doutorado já analisaram o uso das FVs. Ambos delimitaram o enfoque aos tempos verbais do passado. O estudo de Savedra (1994) parte da escolha gramático- discursiva do emprego da flexão verbal em LA e LP em narrativas orais e escritas, experienciadas e elicitadas, produzidas por falantes bilíngues alemão-português e por falantes nativos de alemão, sem domínio da LP, e falantes nativos de LPB sem domínio da LA.
»O estudo de Battaglia (2008) analisa as características morfológicas, semânticas e pragmáticas dos tempos verbais do passado em textos escritos, de diversas naturezas. A autora contrasta os dois sistemas verbais a partir da descrição na sequência temporal, isto é, na sequência em que os tempos verbais ocorrem nos textos.
»O objeto de nosso estudo é a forma e a funcionalidade das FVs em LA e em LPB. Por forma entende-se a categorização morfológica e regência sintática da flexão verbal em LA e em LP. Por funcionalidade entendem-se os aspectos semântico-pragmáticos do emprego e da função das FVs na tradução do par de línguas em questão, tanto como língua de partida, quanto como língua de chegada.
»A partir do objeto selecionado, o objetivo geral deste trabalho é identificar a escolha das FVs nas traduções em LA e em LPB e sua alternância na interação Tempo-Modo-Aspecto.
»Em um primeiro momento, selecionamos analisar a escolha das FVs nas traduções em LA e LPB, para asserções do modo condicional, discutindo o uso das FVs no âmbito da relação Tempo-Modo- Aspecto, em perspectiva contrastiva. No entanto, identificamos durante a análise do corpus que a noção de aspecto mostrou-se relevante para a escolha da FVs selecionadas nas traduções.
»Decidimos então direcionar o estudo para a análise do aspecto verbal, especialmente do aspecto durativo/imperfectivo, levando em consideração a distinção entre aspecto gramatical e aspecto lexical (Aktionsart), ou Modo de Ação, sugerida em Koch (2001).
»2. Gramática e cultura contrastiva: o referencial teórico de base
»Os estudos linguísticos contrastivos realizados na Alemanha tem por base a abordagem comparativa das línguas em contato, como as gramáticas comparativas de Cartagena & Gauger (1989) e de Zemb (1978). A primeira com estudos comparativos do alemão com o espanhol e a segunda, com o francês. Ambas com o objetivo principal de proporcionar fundamentos linguísticos para o ensino do alemão como língua estrangeira e incentivar a identificação de semelhanças e diferenças entre a língua materna e a língua alvo.
»A mesma orientação é seguida no Brasil pelos estudos desenvolvidos no âmbito do projeto Gramática Contrastiva Alemão-Português da USP, descritos por Nomura e Bataglia (2008) em obra que compila algumas pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto.
»Mais recentemente, os estudos contrativos passam a considerar a interação gramática-cultura (Kulturkontrastive Grammatik), como proposto por Götze, Müller-Liu e Traoré (2009). A noção de uma gramática contrastiva cultural é introduzida pelos autores como um referencial teórico e metodológico para análise de línguas em contraste não somente pela forma linguística, mas também pelas raízes culturais, tradições e normas, determinadas pelo Weltanschaung (“visão de mundo”) de uma respectiva comunidade linguística. Esta nova perspectiva será a perspectiva norteadora deste estudo.
»Nesta pesquisa também buscamos subsídios teóricos na sociolinguística cognitiva, como apresentada por Geeraerts, Kristiansen e Peirsman (2010) e por Kristiansen e Dirven (2008). Nestes estudos são propostos modelos teóricos e metodológicos para investigação da variação linguística a partir da interação de modelos cognitivos de construções gramaticais com modelos ideológicos expressos pela representação linguística identificada em determinadas comunidades de fala.
»No recente livro organizado por Kątny und Socka (2010), os autores discutem a questão da modalidade e da temporalidade (Modalität e Temporalität), com base em estudos comparativos de diferentes línguas. Na primeira parte do livro apresentam estudos que privilegiam a interação modalidade e temporalidade exemplificada no contraste da LA com o inglês, com o russo e com o norueguês.
»Tratam da questão da identidade de tempos e modos verbais e das conjunções como elementos identificadores da integração Tempo- Modo-Aspecto. Na segunda parte, focam a discussão nos verbos modais e na modalidade por eles expressa e, na terceira parte, discutem a lexicalização dos marcadores modais, incluindo a análise contrastiva entre a LA e o polonês.
»Além destes estudos em LA, buscamos subsídios teóricos nos trabalhos desenvolvidos em LP sobre a temática de Tempo, Modo e Aspecto.»
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